Planejamento de Demanda: Como o viés de previsão impacta o supply chain e os estoques

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Era final de tarde quando Ana, consultora de uma empresa de analytics para a indústria, chegou à sala de reuniões de uma grande indústria em Campinas.

O dono, Sr. Alberto, um diretor de supply chain de 58 anos, recebeu Ana com um sorriso seguro, mas a contragosto, pois tinha sido forçado a marcar a reunião por determinação do CEO da empresa.
— “Olha, Ana, vou ser sincero: eu conheço meu mercado como ninguém. Sei quanto o nosso produto vai vender e a qual preço deveria vender só de olhar o custo da matéria-prima e de falar com os clientes. Só de olhar para os números eu sei o que aconteceu dois anos atrás nesse mercado. Esses relatórios e algoritmos aí não entendem o que a gente já conhece desse mercado.”

Ana abriu a apresentação e mostrou um gráfico de três anos de histórico de vendas.
— “Sr. Alberto, no último verão o senhor aumentou a produção em 25%, mas a demanda real cresceu só 10%. O resultado foi excesso de estoque e promoções forçadas, que reduziram sua margem.”

Ele riu, confiante:
— “Mas isso é normal! Sempre foi assim. Se eu não arrisco, posso perder venda.”

Ana manteve a calma.
— “Claro, o feeling do senhor é valioso. Mas repare: nos últimos cinco anos, seu feeling acertou 2 vezes e errou 7. O senhor é ótimo em detectar oportunidades, mas os dados podem ajudar a validar antes de comprar em excesso. Não é substituir sua experiência, é dar mais munição para decidir com segurança no planejamento de demanda.”

Sr. Alberto olhou para o gráfico novamente, mais sério. Ao final da reunião, reportou para o CEO da empresa que o projeto não valia a pena e que era melhor confiar nos seus modelos mentais e suas análises no Excel. Os nomes dos personagens e o segmento da empresa foram modificados, mas a história retrata um caso real.

Como as empresas podem aumentar a maturidade de suas previsões? O artigo abaixo retrata o problema e um caminho para atingir esse objetivo.

1. O que é viés de previsão?

Na previsão da demanda, as pessoas raramente fazem previsões puramente objetivas. Alguns vieses comuns:

  • Viés Otimista (otimismo excessivo): superestimar vendas futuras.
  • Viés Pessimista (conservadorismo/excesso de cautela): subestimar vendas para “não se comprometer”.
  • Viés de Ancoragem: usar períodos recentes como base, mesmo quando o contexto mudou.
  • Viés de Sazonalidade mal interpretada: confundir variação pontual com tendência.
  • Viés de Confirmação: basear previsões em eventos mais marcantes ou fáceis de lembrar, em vez de dados representativos.

2. Como isso afeta o supply chain

O supply chain depende de previsões para alinhar produção, compras, logística e estoques. Se a previsão está enviesada, toda a cadeia se ajusta na direção errada.

Quando há superestimação da demanda (viés otimista):

  • Excesso de estoque: aumenta custos com capital imobilizado, armazenagem, risco de obsolescência/perda e pode gerar margens menores se houver necessidade de liquidação.

Quando há subestimação da demanda (viés conservador):

  • Ruptura de estoque (stockout): perda de oportunidades de vendas, clientes migram para concorrentes e queda no nível de serviço com atrasos nas entregas.

Quando há alta variabilidade nas previsões (falta de consistência):

  • Efeito chicote (bullwhip effect): pequenas distorções no forecast se amplificam ao longo da cadeia, gerando maior custo operacional e dificuldades no planejamento de demanda.

Efeitos Financeiros:

  • Receitas reduzidas, margens impactadas e aumento de despesas financeiras e operacionais, afetando diretamente a eficiência do supply chain.

3. Exemplo prático

Imagine uma empresa de bebidas:

  • O time comercial, otimista, prevê +15% acima do real para o verão.
  • A produção aumenta a fabricação, estocando garrafas e insumos.
  • O verão tem demanda normal, não extraordinária.

Resultado: sobra de estoque, necessidade de promoções, margens reduzidas e capital imobilizado.

No cenário inverso (subestimação), a fábrica não produz o suficiente e os concorrentes ocupam o espaço de prateleira, gerando perda de market share e receita.

4. Forecast bias: monitorando o viés de previsão

O forecast bias é uma métrica criada para medir e monitorar a direção sistemática do erro de previsão:

Equação de Forecast Bias = (Σ(Previsão − Demanda Real)) ÷ (Σ Demanda Real).

  • Bias positivo → previsões acima da demanda real (tendência a superestimar).
  • Bias negativo → previsões abaixo da demanda real (tendência a subestimar).
  • Bias próximo de 0 → previsões não tendenciosas (erros podem existir, mas sem direção sistemática

Exemplo de uso do forecast bias:  Se uma empresa percebe que o bias médio de 12 meses é +12%, significa que sistematicamente superestima a demanda.

Ações para reduzir o viés:

  • Revisar incentivos da área comercial (para não inflar previsões).
  • Ajustar o modelo de forecast com fator de correção durante as reuniões de S&OP.
  • Monitorar se o bias retorna próximo de zero após intervenção, melhorando a acurácia do planejamento de demanda.

5. Conclusão

O viés de previsão humano impacta diretamente a performance do supply chain, afetando o elo entre demanda esperada e entrega real. Pode gerar custos ocultos: estoques excessivos, perdas de vendas, redução de níveis de serviço, erosão de margens e menor eficiência operacional.

Empresas maduras aplicam processos de S&OP/IBP, combinando modelos estatísticos com ajustes humanos controlados, e monitoram métricas de forecast bias para garantir previsões mais precisas e otimizar estoques.

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